Destaque - 19 de novembro de 2021
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Projeto cultural ensina jovens tradição do Tambor de Gambá e dança dos Pássaros em Maués

Valorizar e fortalecer as manifestações culturais e populares da cidade de Maués, a 267 quilômetros de Manaus, por meio do ensino como a tradição do Tambor de Gambá e instrumentos percussivos da região, além da Dança dos Pássaros e outros folclores. Esse é o objetivo do projeto ‘Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná’, iniciativa do […]

Valorizar e fortalecer as manifestações culturais e populares da cidade de Maués, a 267 quilômetros de Manaus, por meio do ensino como a tradição do Tambor de Gambá e instrumentos percussivos da região, além da Dança dos Pássaros e outros folclores. Esse é o objetivo do projeto ‘Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná’, iniciativa do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), aprovada pela Lei 8.313/91 de Incentivo à Cultura.

A ação é coordenada pela Aliança Guaraná de Maués (AGM) e tem patrocínio do Guaraná Antárctica e da Ambev. Além do Idesam, o projeto é realizado pela Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.
O Tamboreando nasceu da interação entre o Idesam e dois mestres de Cultura Popular do Amazonas: os saudosos Ricardo Macedo e Waldo Mafra, o Mestre Barrô – donos de conhecimentos notáveis sobre a arte dos tambores regionais, especialmente o Tambor de Gambá, e expressões folclóricas, como a Dança dos Pássaros.

Segundo a coordenadora geral do Tamboreando, Mariana Guimarães, Maués foi escolhida como ponto focal do projeto por apresentar rica diversidade de saberes culturais tradicionais e originários, que são transmitidos de geração a geração. “Os materiais do projeto possuem referência direta à natureza do município, trazendo singularidade a essas manifestações e fazendo com que sua prática fortaleça o sentimento de identidade. Por tudo isso, o projeto não seria possível de ser realizado em outro local”, explica Mariana.

Metodologia

Já em andamento, a iniciativa está estruturada em dois eixos: formação e apresentação. A formação inclui duas oficinas, ambas com duração de um ano, para um grupo de aproximadamente 90 alunos de Maués e municípios vizinhos. As oficinas são de Luthieria Percussiva e Tambor de Gambá.

A formação em Luthieria Percussiva apresenta conhecimentos sobre: construção de instrumento, com teoria e práticas que estimulam a criatividade de cada aluno; montagem, com corte da matéria-prima de acordo com a proposta dos desenhos dos alunos e trabalho do encaixe de peças; alinhamento; acabamento; e, ao final, resultados, com a apresentação da orquestra de alunos, formada por instrumentos de variados modelos – cajons, tambores alfaias (de cordas), gambás, trucanos, timbaus de corda e chocalhos de sementes.

Já as aulas de Tambor de Gambá apresentam módulos para montagem e limpeza dos instrumentos; Pedagogia Griô, com a vivência afetiva e cultural para a facilitação do diálogo entre faixas etárias, escola e comunidade, entre outros pontos; aprendizado do instrumento, com foco na performance individual; além de ensino de cantoria e batidas.

Encerrando a programação, o projeto fará 10 apresentações da Dança dos Pássaros e outros folclores, e do grupo Troar dos Tambores, formado por jovens e adultos participantes das oficinas e da cidade de Maués. As primeiras apresentações estavam previstas para acontecerem durante a tradicional Festa do Guaraná, que ocorre anualmente no mês de novembro, mas com a suspensão do evento neste ano os espetáculos ocorrerão em 2022.

“De forma geral, o projeto pretende preservar a cultura de Maués por meio da difusão de práticas culturais típicas da região e isso é possível graças a uma dinâmica de apresentações e aulas, que beneficiam 90 alunos de diferentes comunidades originárias e tradicionais da cidade e do seu entorno. Assim, o Tamboreando tem como foco principal fortalecer a tradição do Tambor de Gambá e outros instrumentos percussivos da região, da Dança dos Pássaros e folclores nas áreas de abrangência do projeto”, afirma Silvana Macedo, coordenadora geral da Aliança Guaraná de Maués.

Em memória

Criador e administrador do Luthier, projeto que atende 150 jovens de Maués, o professor Ricardo Macedo se dedicou a ensinar a arte da Luthieria Percussiva – incluindo alunos em situação de vulnerabilidade social cadastrados pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas). Foi desse projeto que nasceu o grupo Troar de Tambores, que promove uma série de apresentações dentro do município e faz trilha sonora para as Lendas do Guaraná. Em 2018, o grupo foi convidado pela Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido para tocar no Festival Folclórico de Parintins. Ricardo faleceu em 2020, em decorrência de complicações da Covid-19.

Já Waldo Mafra, o mestre Barrô, foi historiador de Cultura Amazônica, mestre de Cultura Popular da Expressão Gambá, presidente e fundador do Centro de Preservação e Conservação da Cultura, Arte e Ciências de Maués (Cultuam). Foi eleito mestre representante titular na Plenária Nacional (cadeira Cultura Popular) e conselheiro titular no biênio 2016-2017 no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC). Mestre Barrô também faleceu antes do início da execução do projeto.

Um time de professores oficineiros dará continuidade ao trabalho dos dois mestres. Entre eles, está o luthier Alessandro Cabral. Natural de Parintins (AM), que foi regente do grupo percussivo de 640 integrantes, a Batucada do Garantido. Como o custo e a manutenção dos instrumentos era alto, Alessandro decidiu aprender técnicas para construção dos apetrechos e está nesse ofício desde então.
“O Tamboreando não é apenas um projeto de música e construção de instrumentos e sim uma ferramenta transformadora na vida do jovem, principalmente nos de risco de vulnerabilidade social. A partir do momento que usamos projetos dessa proporção para beneficiar o jovem, existe uma transformação significativa na vida dele. Esse é o maior impacto”, diz Alessandro.

É com um sentimento de dever e gratidão que o professor substituiu o mestre Ricardo Macedo. “A maior bandeira do mestre era a educação e a real transformação do indivíduo. Dar continuidade a esse trabalho é o melhor presente que pude receber, pois também carrego essa bandeira da educação e da música. A nossa frase preferida é educar através da música. Acredite, dá certo!”, afirma.

Juventude

Alessandro Cabral relata que a procura pelo projeto é grande e já tem vários inscritos. Entre eles, está a jovem estudante Hagatha Freitas, de 16 anos. Ela, que já sabe tocar violão e outros instrumentos, se interessou pela oficina de Luthieria. “Vou aprender tudo sobre a linha de montagem, teórica e prática da confecção de instrumentos. Sempre tive interesse em saber mais sobre percussão, como se manuseia o instrumento e os fundamentos dele. Minha expectativa é positiva. Quero aprender como fazer um instrumento para mim e para outra pessoa, assim como adquirir cada vez mais conhecimento sobre música”, relata animada.

Para a coordenadora geral do Tamboreando, o projeto apresenta uma série de benefícios que fazem a diferença no cotidiano de Hagatha e sua comunidade. “A capacidade de realização, a ocupação dos contra turnos escolares com atividades que trabalham positivamente a autoestima local, o reconhecimento das famílias quanto à importância do novo fazer de suas crianças e jovens, o interesse dos espectadores durante as apresentações, o atrativo sob a perspectiva turística e, por fim, a movimentação da economia, através da geração de renda aos colaboradores, todos esses são aspectos que transformam a realidade local a partir do investimento em sua potência”, finaliza Mariana.

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