Davi Kopenawa participa de evento inédito na UFAM que valoriza saberes Yanomami

Nesta terça-feira, 22 de abril, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) sedia um momento histórico com o início do encontro “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami”, a partir das 14h. O evento traz pela primeira vez à instituição uma das maiores lideranças indígenas do Brasil, em uma programação especial que celebra a defesa de três dissertações de educadores Yanomami e a valorização dos saberes tradicionais no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA).

A abertura será realizada no Auditório Eulálio Chaves, no setor Sul da UFAM (Av. Gen. Rodrigo Octávio, nº 6.200 – Coroado I, Zona Leste de Manaus). Já as defesas de mestrado, no dia seguinte, acontecem no Auditório Rio Solimões, no setor Norte do campus. A participação é gratuita, aberta ao público, com inscrições pelo link: https://www.even3.com.br/acao-academica.

“Davi Kopenawa é uma das principais vozes indígenas do país.” Reconhecido internacionalmente, o xamã, líder político e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) é também coautor das obras “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”. Seu trabalho em defesa dos direitos indígenas e da Amazônia já lhe rendeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFRR e UNIFESP.

Para o coordenador do PPGSCA, Caio Augusto Teixeira Souto, o evento é um marco na história acadêmica da região. “Este evento representa um momento histórico para a comunidade acadêmica e para a sociedade amazonense.” É a primeira vez que Kopenawa atua como arguidor em bancas de mestrado, ocupando formalmente esse lugar dentro da universidade.

A banca contará ainda com especialistas no tema, como o Dr. Paulo Roberto de Sousa, do povo Tremembé. “Essa composição reforça o compromisso com a transversalidade, o diálogo entre saberes e a valorização da diversidade epistêmica”, complementa Souto.

Saberes ancestrais em defesa

As dissertações serão defendidas pelos educadores indígenas Odorico Xamatari Hayata Yanomami, Edinho Yanomami Yarimina Xamatari e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko. Vindos de Santa Isabel do Rio Negro, eles se formaram pela UFAM em Licenciatura Indígena com foco em políticas educacionais e desenvolvimento sustentável. Atualmente, atuam como professores em comunidades Yanomami no Rio Marauiá, exercendo papéis de liderança ao unir conhecimento tradicional e educação formal.

Eles ingressaram no mestrado em 2023, por meio de uma turma oferecida em São Gabriel da Cachoeira, com apoio da FAPEAM. Suas pesquisas abordam temas como música, rituais xamânicos e o ensino da língua Yanomami às crianças, contribuindo para a preservação da cultura ancestral.

Segundo Souto, esse movimento representa uma nova etapa para os povos indígenas na universidade. “Eles não querem mais se restringir às áreas tradicionalmente associadas às suas trajetórias […]”, afirma. O objetivo é ocupar espaços em áreas como medicina, geologia, artes e linguística.

“Mais do que formar mestres, o que se constrói aqui é um projeto de universidade pública verdadeiramente amazônica plural e em condições de acolher todos”, finaliza o coordenador do PPGSCA.

Programação do evento

A programação cultural começa nesta terça (22), às 14h, com apresentações de bois-bumbás (Garantido e Caprichoso) e ciranda tradicional de Manacapuru. Às 15h, haverá a mesa de abertura com autoridades como o reitor da UFAM, Sylvio Puga; a pró-reitora Maria Teresa Lopes; a diretora do IFCHS, Iraildes Torres; representantes do MEC e da Secoya; além de Caio Souto.

“Davi Kopenawa, uma das principais lideranças indígenas do Brasil, dá seguimento à conferência fazendo uma fala pública, às 15h15.”

Na quarta-feira (23), as defesas acontecem no Auditório Rio Solimões, às 10h, 14h e 16h, com os mestrandos Odorico, Edinho e Modesto, e participação de Davi Kopenawa.

Realização

O evento “Davi Kopenawa: palavras de um xamã Yanomami” é promovido pelo PPGSCA/UFAM, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Uma ação que une educação, cultura e ancestralidade em defesa de uma universidade mais inclusiva e conectada com a Amazônia.