Na orla de Maués um edifício centenário chama atenção de quem passa, trata-se da Casa Faraco, construída em 1902 e que durante tempos ficou abandonada, em ruínas, perecendo com a ação do tempo e que agora foi entregue totalmente reformada pela prefeitura.
“Aqui viveu um dos homens mais visionários que nossa cidade já recebeu – José Faraco, italiano, que descobriu o potencial do fruto do guaraná para comercializar no Brasil e no mundo”, conta o prefeito da cidade, Júnior Leite.
O local, totalmente reformado e retomando a arquitetura original, recebeu o nome de Memorial Casa Faraco, onde terá exposições permanentes contando toda a trajetória da vinda dos italianos para Maués e a comercialização do fruto e de que forma eram feitas as transações naquela época.
“Giuseppe era tão visionário que ele mesmo plantou mais 50 mil mudas de guaraná na região. No ano do centenário da República (1922), foi condecorado com uma medalha superpesada de ouro maciço, no Rio de Janeiro, capital do Brasil até então, como o ‘Rei do Guaraná’ pelo governo da época, em uma exposição agroindustrial que participará”, disse Leite.
Graças aos Faracos, Maués é conhecida como a Terra do Guaraná, pois somente os índios Sateré-Mawé conseguiam fazer a comercialização do fruto da Amazônia, ainda por meio de escambo e que era muito visado pelos europeus.
No memorial, o visitante terá acesso à exposição ‘Memórias do Município de Maués – Terra do Guaraná’, a qual permitirá que os visitantes conheçam melhor a história do município e a importância do fruto para o estado.
Sobre o edifício e a Família Faraco
Em 1902, o italiano José (Giuseppe) Faraco, nascido em Acquafredda , Maratéa, Província de Potenza, Brasilicatta (Itália), chega a Maués para conhecer outro conterrâneo chamado Nicoló Filizola, que iniciava um comércio de guaraná o qual Faraco tornou-se sócio imediatamente.
O edifício foi construído no mesmo ano por Faraco, serviu de residência à família até meados dos anos 40. A prefeitura arrematou o edifício em 1947 e fez dele sua sede, onde a noite funcionava também a Câmara Municipal. Na década de 70, o prédio foi cedido ao Tribunal de Justiça do Amazonas, para sediar o Fórum da Comarca de Maués que funcionou até a segunda metade de 2009 e depois foi desativado devido à enchente daquele ano.
As muitas reformas feitas na Casa Faraco descaracterizou a arquitetura original do primeiro prédio construído em alvenaria da cidade, com material trazido da Europa, telhas usadas na construção de arquitetura italiana, com sua escadaria voltada ao rio para a facilitação do recebimento e entrega de mercadorias.
O Rei do Guaraná, como era conhecido José Faraco, facilitava a comercialização do fruto com o famoso, até hoje, guaraná em bastão, ao qual rala-se com a língua de pirarucu, peixe típico da Amazônia. Além da comercialização do fruto, ele também investiu nas primeiras usinas de pau-rosa, uma essência descoberta pelos franceses que substituía o âmbar das baleias na produção de cosméticos, sendo o fixador do famoso Chanel nº 5, eternizado como o perfume da atriz Marilyn Monroe.
Faraco teve uma mulher, filha de índios, a qual teve três filhos e que os livros não citam o nome desta, porém, citam o dos filhos: Letícia Vitoria, Maria Dolores e Arthur Angelim, os quais ele reconheceu todos, assegurou educação e viviam juntos ao pai em sua casa. E providenciou a vinda ao Brasil dos seus três filhos italianos: Biagio (Brás), Francesca Emilia e Giovanni, após a morte repentina de enfarto, na Itália, de sua esposa Carmela.
José Faraco esteve diversas vezes em Acquafredda e retorna à Itália após a crise de 1929, porém, em 1939, com a Segunda Guerra Mundial, ele não pode mais retornar para Maués. Todo o seu grande projeto comercial foi enterrado com ele que morrera em 1946, o qual a história relata que falece desesperado e com complicações gástricas.
Brás Faraco é único filho de José que ficara no Brasil e foi o pai do ex-governador interino do Amazonas Raphael Faraco.